sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Vamos parar de falar merda? - Mulher não é amiga de mulher

Você já deve ter ouvido a “piada”. Duas mulheres se encontram. “Oi, amiga! Como você está linda! Emagreceu! Nossa, vamos nos ver”. No minuto que elas se separam elas pensam: “odeio essa vaca”. Na cena seguinte dois homens se encontram: E aí, viado? Fala, seu filho da puta! Ambos vão embora pensando: “eu adoro esse cara”. Moral da história: mulheres são falsas, não são amigas umas das outras e a cortesia que trocam serve para mascarar essa competição. Amizade verdadeira existe entre homens, que se insultam gratuitamente como forma de diversão.

Eu não ouvi isso nem uma nem duas vezes. Ao vivo em conversas de amigos de ambos os sexos, compartilhado em redes sociais. Gente, vamos parar de falar merda?
 
Desde que nascemos somos bombardeadas com o mito da competição entre as mulheres. A Rainha Má mandou matar a Branca de Neve porque não poderia existir mulher mais bela. A madrasta e as irmãs da Cinderela não deixaram que ela fosse ao baile porque era mais bonita e poderia monopolizar as atenções do Príncipe. Em linhas gerais, todas essas histórias de princesas repetem o mesmo mantra: as mulheres são inimigas entre si. Um mito que é reatualizado na publicidade, nas músicas dirigidas às invejosas, que falam de recalque.

Eu não sei em que planeta as pessoas que repetem essa história vivem. Mas vamos lá. Pense na sua mãe, na sua irmã, na sua companheira, nas suas primas, amigas, professoras, colegas de trabalho. Você realmente acredita que nenhum possui um laço de amizade verdadeiro? Que estão todas ocupadas arquitetando planos malignos para derrubar umas às outras? Acho que não.

Eu sempre tive mais amigos homens que mulheres. Mas sempre tive laços de amizade profundos com minhas amigas, com mulheres da minha família. Relações que não se perdem com o tempo ou distância. E eu sei que não sou exceção. Há coisas que eu só me sinto à vontade de conversar com outra mulher, um tipo de conforto, aconselhamento e carinho que eu só encontro nas pessoas do mesmo gênero que eu. Há uma intimidade e um prazer de estar entre mulheres que todas nós sabemos do que se trata, ainda mais porque vivemos num mundo carente de espaços femininos exclusivos. Sim, há mulheres que agem dessa forma competitiva. Mas isso não é inato, isso é ensinado e dá trabalho pra se livrar. Mas não é da natureza feminina e não é geral.

Aliás um grande favor que poderíamos fazer a nós mesmos seria abolir as generalizações. Homem é tudo igual. Mulher é tudo igual. Vocês homens isso, vocês mulheres aquilo. Apenas parem! Primeiro porque não é verdade, segundo porque é ridículo. Aliás, a parte da piada que supostamente elogia os homens também é ridícula. É como se os homens fossem eternos garotos de 12 anos que se regozijam em xingar a mãe e chamar o outro de viado. Daí eles se despedem felizes do encontro porque encontraram quem brincasse com eles.

Sério isso, Brasil?

Então, aqui vai um pedido: vamos parar de falar merda? De reproduzir esse tipo de coisa? Nós estamos acostumados a repetir qualquer besteira sem muita reflexão. Aliás, estamos acostumados a viver sem muita reflexão, a fazer as coisas por inércia, porque é como todo mundo faz. O mundo muda quando a gente muda. E isso não está nas grandes rupturas. Isso está no cotidiano, está nas mãos de pessoas comuns, como eu e você.

Pensar não doi. Mudar também não.

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