quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mês das noivas, mês das mães: ser mulher é só isso?

Maio é o "Mês da Mulher" do Discovery Home and Heath. Podem me chamar de paranoica, mas não me parece coincidência que o mesmo mês dedicado às noivas, seja também o mês em que se comemora do dia das mães. No canal mencionado, isso significa uma infinidade de programas dedicados a esses dois supostos pontos altos da identidade feminina: o dia em que você se casa e o dia em que você se torna mãe. O que me leva a crer que para o Discovery e para muita gente não importa o que você faça como profissional e como ser humano: você só será uma mulher completa e realizada quando tiver um marido e um filho.

Na semana passada eu fui ao casamento de uma amiga de longa data. Como nosso círculo social é composto de pessoas de mais de 30 anos, nossos encontros mais frequentes acabam se dando justamente nesses eventos. Mas de um tempo pra cá nosso meio tem passado por um verdadeiro "baby boom": além de alguns casais com seus lindos bebezinhos, havia uma amiga grávida, notícias sobre duas outras que estão gestantes e uma outra que está tentando engravidar. Nada contra. Mesmo. Eu mesma me casei vestida de noiva e entrei no salão (casei apenas no civil) de braço dado com o meu pai e gostei muito de marcar o início da minha vida em comum com a pessoa que amo com uma grande festa reunindo as pessoas que são importantes nas nossas vidas. Acho que ter filho deve ser uma das coisas mais bonitas da vida se você está realmente afim e fico muito feliz por amigos/amigas quando se casam ou se tornam mães/pais.

O que me preocupa é ver que para muitas mulheres casar e ter filhos ainda é um fim em si mesmo. Querer casar porque você "já passou de uma idade" e não porque você conheceu alguém que vale a pena dividir a vida. Ter filhos porque a natureza te deu um útero e não porque é seu desejo construir algo com quem você ama. Respeito mulheres que optam por uma "produção independente". Mas não é o que eu vejo nos círculos que frequento, formados por pessoas de classe média alta, financeiramente independentes e esclarecidas. As mulheres querem se casar porque querem ter filhos e, como o tempo está passando, tem que ser logo. A impressão que me passa é que o parceiro/pai é apenas um acessório. É nessas horas que vemos que o machismo prejudica aos dois sexos. Se eu fosse homem ia querer ser visto como uma pessoa, não como um marido/reprodutor em potencial. O resultado é que todos sofrem.

Durante o fim de semana do casamento eu devo ter ouvido umas 15 vezes a pergunta "E você, quando vai ter um filho?". Acho normal porque são pessoas que são minhas amigas e que possuem intimidade o suficiente pra me perguntar sobre esse tipo de coisa, inclusive porque já falei com elas sobre o assunto e há alguns meses andava considerando seriamente essa possibilidade. Mas depois me ocorreu que não há o mesmo interesse pra saber a quantas anda o meu doutorado, como está o meu trabalho, como anda o meu relacionamento com meu marido. Eu sou casada há quatro anos: ter filho é uma obrigação social e como decidi que por hora não é o que eu quero, isso automaticamente faz de mim uma mulher esquisita. (Se você esperar demais acaba não tendo, dizem).

Lembro que o ano em que fiquei noiva foi o mesmo ano em que entrei no mestrado. Embora estivesse muito feliz, sempre foi um incômodo perceber que a reação de amigos (homens e mulheres) era muito mais eufórica ao saber do meu noivado. Se já tinha marcado a data, escolhido o vestido. Temos um longo caminho a percorrer se como mulheres continuamos valorizando mais esses eventos do que quaisquer outros. O casamento é descrito como o dia mais importante da vida de uma mulher, a maternidade como o momento em que você realmente conhece o amor. E aí como ficam as solteiras? As que optaram por não se casar ou não ter filhos? As lésbicas? As estéreis? Estão condenadas a ter uma vida incompleta e infeliz?

Eu penso em ter filhos, mas se não tiver, tudo bem. Gosto de criança, acho que seria uma mãe muito legal. Não vai ser agora, só porque eu já tenho quatro anos de casada, só porque a minha família quer um bebezinho fofo ou porque eu tenho 32 anos e o tempo está passando. Eu tenho um doutorado pra terminar e eu me recuso a ser uma escrava da biologia. Pior é que quando eu digo isso, sempre tem alguém com conselhos "confortadores" do tipo "mas dá pra conciliar as duas coisas". Dar, dá. Mas quem disse que eu quero? 

Querer dar conta de tudo é uma das armadilhas que criamos pra nós mesmas: o mito da super-mulher. A que trabalha feito uma workaholic, trepa como uma atriz pornô, está sempre impecável como se fosse uma modelo, vai na academia, cozinha como a Nigella, cuida da casa filhos e maridos como se fosse uma dona de casa dos anos 50. Ninguém para pra refletir que ter filhos envolve escolhas e sacrifícios e que para isso você deve estar disposto a abrir mão de muita coisa, principalmente a mulher, que é que carrega e tem um vínculo maior com a criança pequena. E sabem, eu gosto muito da minha vida do jeito que ela está. Eu não sei se estou pronta pra abrir mão da minha liberdade e da minha vida boêmia.

A gente precisa aprender a dizer não.

Nenhum comentário:

Postar um comentário