segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A Internet ajuda, sim

De volta depois de algumas semanas de descanso. Estou correndo por aqui, mas deixo o link de um texto sobre luta contra a homofobia que merece ser compartilhado. É a história de uma rapaz gay de 18 anos que postou um desabafo no Facebook sobre as agressões homofóbicas que vinha sofrendo de sua família. Além de muitos comentários solidários, o rapaz recebeu ajuda de uma ong contra a homofobia. Ele agora está fora de casa e longe de seus agressores. O caso foi denunciado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República e está sendo acompanhado pelo Conselho Nacional LGBT.

Leia a notícia completa aqui.

 Ultimamente vejo muita gente tirando sarro do ativismo online. Ironizam que há muitos indignados no Facebook. Pode até ser. Mas creio que esse raciocínio é próximo daquele que critica pessoas que defendem os animais, afirmando que há muita gente passando necessidade, mas não fazem nada nem pelas pessoas nem pelos animais. Do mesmo modo, quem ironiza o ativismo online não costuma ter nenhuma atuação fora da rede. Esse caso mostra que a denúncia e a mobilização via Internet pode ajudar, sim, e que temos mais é que aproveitar todos os meios que tivermos - dentro e fora da web.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Crítica: Millennium - Os homens que não amavam as mulheres


Sinopse: Mikael Blomkvist (Daniel Craig) é um jornalista econômico determinado a restaurar sua honra, depois de ser condenado na justiça por difamação. Contratado por um dos industriais mais ricos da Suécia, Henrik Vanger (Christopher Plummer), para investigar o desaparecimento de sua sobrinha Harriet (Moa Garpendal), há 36 anos, ele se muda para uma ilha remota na costa gelada da Suécia sem saber o que o aguarda. Ao mesmo tempo, Lisbeth Salander (Rooney Mara), hacker da Milton Security, é contratada para levantar a ficha e os antecedentes de Blomkvist, missão que será o ponto de partida para que ela se una a Mikael na investigação de quem matou Harriet. (Fonte: Cineclick)
 
Confesso que não levava muita fé nesse filme. Pelo trailler que passava na MTV (oi?) e pelos outdoors no metrô anunciando o best-seller internacional (que geralmente livros fraquinhos, como a saga Crepúsculo ou Marley e Eu). Por isso, foi uma feliz surpresa me deparar com um filme tão bom. Suspense de primeira, bela fotografia, personagens bem construídos, trama bem amarrada e uma bela edição. Mas não vou ficar comentando aspectos técnicos porque isso pode ser facilmente encontrado em qualquer site de cinema escrito por gente que manja muito mais do assunto do que eu. Vamos  a que interessa: a misogia onipresente retratada no filme.

O filme é o primeiro de uma trilogia baseada na série Millennium do escritor sueco Stieg Larsson. Em Portugal o título é Os Homens que Odeiam Mulheres, muito mais apropriado do que o eufemístico título dado no Brasil. Não amar não quer dizer odiar.  É isso que o filme traz: uma grande discussão sobre misoginia e violência contra a mulher que atravessa as sociedades ocidentais. Lá estão presentes o abuso de poder que acaba se transformando em estupro, um sem-número de mulheres anônimas mortas e violentadas ao longo dos anos e os abusos que ocorrem silenciosamente dentro dos lares de famílias das mais variadas classes sociais. Tudo isso mostrado de maneira forte, algumas vezes bem chocante.

 Cartaz da versão sueca. Vou correr pra baixar e você?


Há uma cena de estupro horrível - e nessa hora eu fiquei aliviada de não estar no cinema e poder acelerar a imagem, porque esse é o tipo de coisa que eu não gosto de ver. Ressalto a palavra "horrível" porque mesmo estupro sendo um ato repugnante, há diretores que conseguem transformar cenas de violência sexual em algo meio pornô. Não é o que acontece aqui. Ponto para o diretor.

Contudo, o mal-estar provocado pela película vai além das cenas violentas, que nem são tantas assim (outro ponto positivo: não descambar pra apelação). O que nos deixa perplexos é como esses agressores se portam em relação às suas vítimas. Há uma completa negação do outro. Eles não são os monstros que estamos acostumados a imaginar quando pensamos em estupradores. São homens lúcidos, bem inseridos na sociedade, com seus trabalhos, alguns casados e pais de família. Eles não violentam porque são doentes ou psicopatas. Eles simplesmente não reconhecem nas mulheres seres autônomos, donas de seus corpos e seus desejos. Eles não sentem remorso não porque são desprovidos de sentimentos, mas porque não acreditam que estão fazendo algo errado. As mensagens bíblicas à la Velho Testamento de que a mulher foi criada para servir ao homem aqui são levadas às últimas consequências - lembrando o quanto o cristianismo contribuiu para a formação de uma mentalidade que atribui às mulheres a fonte de todos os males e que levado ao limite culminou no genocídio de mulheres queimadas como bruxas na Idade Média pela Santa Inquisição.


Por último, destaque para a dupla de detetives formado pelo pelo atual James Bond, o delícia-delícia-assim-você-me-mata Daniel Craig e pela (até agora) desconhecida Rooney Mara. Ele é o contraponto digno aos vários misóginos convictos que desfilam pela tela ao longo da trama: um homem que ama - e respeita muito - as mulheres. Em nenhum momento ele incorpora o estereótipo do canastra sedutor, mesmo nas cenas em que aparece seminu - algo muito raro numa produção hollywoodiana, ainda mais se tratando de um ator hot até para inverno sueco. Mas o ponto alto mesmo é a hacker, Lisbeth. Nada nela é gratuito ou forçado. Nem o visual punk, nem as cenas de nudez, nem a personalidade misteriosa. Inteligente, forte e corajosa, ela é a chave para desvendar os mistérios da trama e não uma mera coadjuvante. Ela é a perfeita anti-heroína: recusa-se a aceitar o papel de vítima ou a ter uma postura passiva diante da vida, mostrando muito bem que uma garota pode - e deve - se defender e cuidar de si mesma.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Um estilista que odeia mulheres com curvas. Que novidade!

Esta semana o estilista da marca Chanel, Karl Lagerfeld, perdeu uma boa oportunidade de ficar calado ao declarar que apesar de ser boa cantora, a diva do momento Adele, seria "meio gorda demais". Apesar de reconhecer a bela voz de Adele, aparentemente cantar bem não é o bastante... para uma cantora.

- Ui, cantora tem que ser magra!

 A gente já sabe faz tempo que os estilistas não são fãs de mulheres com curvas, muito menos das gordinhas. Foram eles que inventaram aquela conversinha mole de que modelos devem ser tábuas "pra mostrar melhor a roupa". O que não faz nenhum sentido, porque se é pra mostrar a roupa não é melhor colocar logo numa mulher que tenha corpo? Na verdade o estilista acabou reproduzindo um velho preconceito machista: não importa o quanto uma mulher é boa no que faz, ela sempre precisa ser bonita antes de tudo. E não que Adele não seja linda, mas para o padrão dominante bonita é ser jovem, branca e magra.

Adele, como diva que é, não perdeu a pose e deu o troco na maior classe em uma entrevista para a revista People: "Eu represento a maioria das mulheres do mundo e tenho muito orgulho disso. Eu nunca quis parecer as modelos das capas de revista", declarou.



- Sou mais eu, Lagerfeld. Rá!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Publicidade ofensiva em propaganda de cerveja. Ah, cê jura?



Mulher seminua em propaganda de cerveja não é exatamente novidade. Mas essa daí conseguiu de uma tacada só ser muito racista e muito sexista. Eu nunca havia pensado muito sobre isso até começar a dar aula para o curso de publicidade. E uma vez que você começa a ver, não dá pra des-ver. Se você procurar do YouTube vai aparecer um monte e não é só brasileira, não. No Brasil pelo menos os publicitários têm uma desculpa para associar cerveja com mulheres de bíquini (ainda que todo mundo saiba que mulher que toma cerveja - e nós somos muitas - não tem exatamente o corpo das que aparecem na propaganda): verão. Não dá pra negar que cerveja combina com praia e calor. Nos outros países eu queria saber qual a desculpa... Não dá pra ter praia? Ok, vamos ficar só com a misoginia mesmo.

Heineken - Mulher Parindo Cerveja
Esse aqui não dá nem pra comentar. Só me resta perguntar: que merda é essa, Heineken?

Eu me pergunto: será essa categoria profissional é tão preguiçosa que não consegue pensar em outra coisa? Será que não dá pra fazer propaganda de cerveja sem perpetuar sem sexismo ou sem perpetuar estereótipo de gênero ridículos como esses aqui.


Nova Schin - Cervejão
Sério mesmo, publicitários do meu Brasil, que vocês não conseguiram pensar nada diferente de "homem gosta de futebol/mulher gosta de shopping"? Sério mesmo que vocês ainda não sabem que mulheres podem ter seus próprios cartões de crédito?


Eu já pensei em boicotar marcar que fizesse publicidade machista, mas aí vi que queria que parar de tomar cerveja. Então não dá pra fazer propaganda de cerveja sem exposição de mulheres nuas? Claro que dá! Dá uma olha nesses aqui, ó:

Bavária Premium - Teorias
Esse aqui deu início a uma série bem divertida. E me convenceu a experimentar a cerveja.

Skol - Roqueiros
Um dos meus preferidos de todos os tempos.

Fica a dica, viu, pessoal da Devassa!


E você. tem algum comercial de cerveja preferido?

Covardia é não lutar pelo que se acredita

A nova ministra da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), Eleonora Menicucci já estreará no cargo voltando atrás numa questão importantíssima para a saúde da mulher: a legalização do aborto. Apesar de ser declaradamente a favor e de reconhecer a importância de sua regularização por se tratar de uma questão de saúde pública, a ministra preferiu tirar o corpo fora da discussão limitando-se a dizer que o governo tem um projeto no Congresso Nacional e que "esse projeto só andará no Congresso se assim os parlamentares quiserem e entenderem a importância dele. Neste momento, nós do Executivo não temos muito o que fazer".

Pra quem não se lembra, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu durante a campanha a não capitanear mudanças na legislação relativa ao aborto para não arrumar encrenca com a bancada - e principalmente - com eleitorado evangélico (uma estratégia semelhante à adotada no ano passado, quando a presidente voltou atrás com relação à distribuição do kit anti-homofobia nas escolas públicas em troca do apoio da bancada crente para abafar uma CPI contra Palocci).

Todo mundo que já leu meia dúzia de páginas de O Príncipe sabe que é assim que a política funciona: pra se manter no governo as pessoas fazem de tudo, seja virar melhor amigo de antigos inimigos mortais ou praticar ações que são exatamente o contrário de suas promessas de campanha. Mas eu me pergunto aqui, com a ingenuidade que me resta, sobre qual o propósito de haver uma Secretaria de Política para Mulheres se a ministra e a presidente já se comprometeram de antemão a não lutar por uma das mais importantes bandeiras relativas à saúde da mulher.

As campanhas anti-aborto sempre dizem que o abortamento é um ato de covardia contra um feto indefeso. E fechar os olhos para a milhares de mulheres que morrem todos os anos vítimas de abortos clandestinos feitos em condições precárias é o que, hein?

Ser bonita é ser amiga dos animais

Em geral não costumamos pensar muito sobre a origem das coisas que consumimos nem no impacto que a produção de certos itens podem causar no meio-ambiente e na sociedade. Isso vai desde as origens da nossa comida às joias que o cinema nos ensinou que serem nossos melhores amigos (interessante que a grande mídia de direita insiste que quem fuma maconha financia o tráfico e não fala nada sobre as joalherias que financiam a violência em Serra Leoa e outros países africanos).

Essa listinha divulgada por entidades de defesa dos animais é uma ajuda para esse consumo mais consciente, pois traz as marcas de empresas de cosméticos que não testam seus produtos em animais. Eu tenho as minhas críticas a essa moda de sustentabilidade porque pra mim isso é estratégia de mercado pra pegar trouxas. Mas sejamos realistas: eu sou vaidosa e pretendo continuar usando maquiagens e cremes em geral. Então prefiro saber que diversos bichos não perderam a visão só pra que eu pudesse ter um rímel maravilhoso.

O bacana é que entre as marcas nacionais há várias bem populares, como Amend (boa marca de produtos para cabelos crespos), Contém 1g, O Boticário, Ox e Natura e outras bem baratinhas como a Vult, Max Love e Impala. Ou seja, não é necessário gastar todas as moedas do porquinho pra comprar "produtos ecologicamente corretos", porque a gente sabe que isso é malandragem do mercado pra aumentar o preço das coisas. Essa lista é bacana porque além da palavra das empresas (que pra mim não costuma valer muita coisa) a metodologia inclui visitas às fábricas para conhecer os metódos de produção. Achei digno.

Para ler a lista completa clique aqui.

Outro blog, FM, cê jura?

É, outro blog. Pelas minhas contas esse deve ser o quarto ou quinto desde que encerrei a saudosa Oficina Irritada. Não sei muito bem por que isso aconteceu, provavelmente excesso de terapia, mas aquele tipo de blog confessional hoje em dia não é mais o que eu quero fazer. Contudo, sempre senti falta de escrever e faz algum tempo que andava pensando em dar forma a este projeto: um blog que falasse sobre questões relativas às mulheres.

Revistas, suplementos de jornal e sites dedicados ao público feminino sempre me pareceram babacas, em maior ou menor grau. Que tipo de mulher os editores da Nova imaginam que existe? Além de serem dedicados a pessoas que não existem e trazerem sempre as mesmas matérias, a impressão que essas publicações passam é que todas as mulheres do mundo são umas consumistas fúteis preocupadas apenas com a aparência e em arrumar marido (e depois de casadas, em segurar o marido) e ter filhos. As poucas publicações que trazem algo a mais - TPM, Marie Claire, Lola, não conseguem escapar do aspecto consumista - você precisa gastar, gastar, gastar pra ser culta, comer bem ou, em última análise, ser feliz. Sério, não precisa nem ter uma vagina para saber que ser mulher é muito mais complexo e bonito que isso.

De outro lado temos vários blogs feministas, dos quais o meu preferido é o da Lola, que trata de muitas questões superimportantes, como machismo, misoginia, violência, aceitação do corpo, preconceito... Os textos são muito bem escritos e gostosos de ler e desde que eu o conheci quis fazer algo parecido e que tivesse a minha cara.

Foi então que eu comecei a conceber este projeto: um lugar onde eu pudesse reunir e comentar informações que me interessam e interessam à outras mulheres normais. Falar de beleza para mulheres que são vaidosas, mas que não são umas loucas obcecadas por cirurgia plástica ou qualquer coisa que vá acabar consumir metade de nossos salários, porque pra começar nós nem ganhamos tão bem assim. Falar de relacionamentos sem idealizações, de saúde sem paranoia, de cultura e lazer sem reduzir isso a consumo, de vida doméstica sem clichês babacas do tipo "rainha do lar" e, por fim, de política e feminismo porque isso faz parte de nossas vidas e não são coisas datadas nem de gente chata.

E é isso. Sejam bem-vind@s. De novo.